Seja em forma de CDs copiados à venda no camelô
da esquina ou nos downloads disponíveis no extinto Kazaa, a pirataria
de propriedade intelectual já tem estado no nosso cotidiano há algum
tempo. E, assim como qualquer outro ato considerado ilícito, sempre
esteve na mira das autoridades reguladoras, com ênfase muito maior nos
últimos anos.
(Fonte da imagem: ThinStock)
Ações como o fechamento do Megaupload ou o levante conhecido como
Stop Online Piracy Act, ou S.O.P.A, são provas disso. Mas afinal, será
mesmo que a pirataria é um mal tão destrutivo assim? Quem se beneficia e
quem é prejudicado por ela?
Dos camelôs aos torrents
A aquisição de conteúdo digital sem o pagamento das permissões de uso
imposto pelos autores é praticada por cidadãos de todo o mundo, mas,
assim como o Tecmundo já havia comentado em um artigo antes, o Brasil é um dos campeões quando o assunto é pirataria.
Os motivos para a tendência mais elevada aqui são muitos.
Primeiramente, tem a disparidade entre o poder aquisitivo dos
brasileiros em relação ao da população dos países desenvolvidos.
Complicando mais ainda, filmes, jogos, músicas e até livros costumam ser
muitos mais caros aqui por causa dos altos impostos cobrados e da
presença fraca da indústria local.
Montanha de discos piratas apreendidos (Fonte da imagem: Divulgação/Ssrc.org)
Pode-se dizer que ser legal no Brasil custa caro, motivo esse que faz
dos CDs copiados disponíveis por menos de dez reais nas lojas ilícitas
uma verdadeira tentação. Com o aumento da disponibilidade de acesso
rápido, fazer o download diretamente dos sites ou via transferências
Peer-to-Peer acabou se tornando a opção número um.
Por isso, não é errado afirmar que os “pirateadores” que distribuem
os discos copiados ou os sites que recebem quantias pela publicidade
gerada pelos acessos ganham um bom dinheiro com a pirataria,
especialmente no Brasil. Porém, ao contrário do que se pensa, os
“benefícios” da pirataria não são revertidos apenas aos copiadores ou
aos consumidores que pagam menos.
Autores também lucram
Neil Young, um dos maiores músicos dos Estados Unidos, acredita em algo bem controverso. Segundo ele, “a pirataria é a nova rádio”,
já que no início da radiodifusão também se acreditava que as canções
sendo disponibilizadas gratuitamente através das ondas de rádio iriam
afundar a indústria musical.
Longe disso, as rádios hoje atuam como um intermédio fundamental na
divulgação de novos artistas, permitindo que suas músicas cheguem a
ouvintes que dificilmente comprariam um disco antes de ter conhecido a
canção quando ela foi ao ar.
Adele, a cantora que mais vendeu discos em 2011(Fonte da imagem: Divulgação/The Telegraph)
Aos poucos, o movimento da pirataria tem mostrado ser um agente parecido: uma pesquisa realizada pelo The Telegraph
mostrou que a cantora Adele foi a artista que mais teve músicas
distribuídas ilegalmente pela internet na Europa em 2011. Por outro
lado, ela também foi a cantora que mais vendeu CDs (originais!) na mesma
região e no mesmo período.
Claro, existem muitos artistas que veem a pirataria apenas como um
“ralo” por onde o dinheiro que poderiam estar ganhando acaba sendo
jogado fora, e com razão. Mesmo assim, exemplos como o da Adele mostram
que, de certa forma, a propagação fácil pela internet traz lucros para
os músicos.
(Fonte da imagem: iStock)
Um dos escritores que mais vendem livros no Brasil e no mundo, Paulo
Coelho, não só vê a pirataria um bom meio de divulgação como também a
apoia abertamente. Em seu blog oficial,
o novelista afirma que um dos principais motivos pelo sucesso de vendas
de “O Alquimista” se deve ao fato de os leitores terem tido o primeiro
contato com o livro em sua versão digital distribuída sem controle pela
internet, e que mesmo assim escolheram comprar o produto impresso
posteriormente.
O pirata sempre sai mais em conta?
Segundo Gabe Newell, fundador da Valve e CEO de um dos maiores
serviços de distribuição de jogos digitais — o Steam —, o motivo pelo
qual a pirataria continua lucrando não são apenas os preços menores, mas
também as vantagens e facilidades trazidas pelos produtos ilícitos.
A declaração feita pelo magnata
tem fundamentos, afinal, quanto mais o cerco contra a pirataria se
agrava, mais aqueles que adquiriram o produto original são penalizados
com o aumento da burocracia e a diminuição das facilidades ao aproveitar
o produto.
Steam, combatendo a pirataria com preços e serviços melhores (Fonte da imagem: Divulgação/Steam)
Maior prova disso é um dos lançamentos mais aguardados nos últimos
tempos: Diablo III. Para jogar o mais novo título da Blizzard, é
necessário que você tenha uma conexão constante com a internet, mesmo
para jogar sozinho na campanha solo. Se os servidores da empresa não
estiverem online, o game nem carrega.
Há relatos até de jogadores que adquiriram a versão oficial de Diablo
III e, mesmo assim, acabaram recorrendo a métodos ilícitos para escapar
dessa burocracia. Para Gabe, a melhor maneira de acabar com o problema
não é investir em tecnologias que dificultam a experiência para ambos os
lados, mas sim dar às pessoas um serviço adequado, com vantagens que
compensem a compra de um produto original.
(Fonte da imagem: Reprodução/TF2maps)
Declarações como as citadas acima mostram que mesmo aqueles que mais
deveriam estar reclamando veem a pirataria não como um mal que dever ser
extinto, mas sim uma revolução que pode trazer tantos benefícios quanto
malefícios. É sempre lamentável que alguém tenha lucros sobre uma obra
sem repassá-los àqueles que mais trabalharam em cima dela. Por isso, a
imensidão da internet e a dificuldade de controlá-la faz da
conscientização do público um fator muito importante.
Vale lembrar que a intenção do Tecmundo com este artigo não é
demonstrar que apoia a pirataria, mas sim mostrar que, apesar de não
parecer, este tipo de movimento se compota como uma faca de dois gumes,
trazendo vantagens e desvantagens tanto para o lado do consumidor quanto
o dos produtores.
Fonte da Notícia: http://www.tecmundo.com.br/pirataria/26633-quem-lucra-com-a-pirataria-.htm
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